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segunda-feira, 18 de abril de 2011

Capítulo 12





"What does it matter if you're here by my side?"




O quarto estava cheio. Diana, Walker, Zöe, Isaac, Taylor e Caroline, lado a lado. Mas ninguém dizia nada. Ninguém sabia o que dizer. Todos contemplavam Zac, imóvel sobre a cama do hospital nova-iorquino, talvez esperando que a força do pensamento em conjunto o despertasse. O único som era o dos equipamentos ligados a ele; um ruído sombrio e melancólico.
Diana começou a soluçar baixinho. Apertou a mão do filho mais novo.
- Vou buscar um café. Você quer alguma coisa? - Perguntou Taylor no ouvido de Caroline, sem conseguir mais suportar aquele clima. Ela, que observava sua sogra cheia de pena, apenas balançou a cabeça.
Ele saiu do quarto, e enquanto caminhava pelos corredores do hospital, encontrou Jéssica, sentada sobre um banco. Ela estava chorando, abraçada nos próprios joelhos.
- Ei. - Ele a chamou, apreensivo. Todas as vezes que cruzara com a garota naquele dia, a encontrara daquele mesmo jeito. Ela parecia estar encarando a notícia pior do que todo mundo.
- Oi Taylor. - Murmurou ela, enxugando os olhos.
- O que está acontecendo com você? - Ele perguntou, sentando ao lado da menina. - Você não é assim.
Ela deu de ombros, sem saber o que responder. Mas as lágrimas teimavam em vir, cada vez mais abundantes.
- Jéssica... - Falou Taylor, assustado.
- Posso te contar uma coisa? - Pediu a garota, em uma voz fraquinha.
- O que quiser.
- A culpa do Zac estar assim é minha. - Confessou, voltando a soluçar.
- Não diga essas coisas. Não é verdade.
- É sim. - Ela ergueu os olhos molhados para ele. - Você sabe que eu estava no carro, mas o que ninguém sabe... nós estávamos brigando. Brigando feio. - Contou, entre lágrimas. - Eu o insultei, bati nele... ele estava tentando se proteger de mim, por isso perdeu o controle da direção.
Taylor conseguiu disfarçar seu espanto muito bem.
- Mesmo assim Jéssica, não se culpe. Aconteceu, só isso... você não podia adivinhar. E eu tenho certeza que se estava brigando com o Zac, ele fez alguma coisa para merecer.
Ela negou com a cabeça.
- Tudo que ele fez parece tão insignificante agora... só queria que ele estivesse bem... eu disse coisas horríveis à ele...
- Não se preocupe, ele vai ficar bom. - Taylor tentou animá-la. - Só precisamos ter paciência.
Jéssica concordou, se calando. Fungou baixinho, sua mente muito longe dali.
- Sabe Taylor... quando eu era pequena, queria me casar com o Zac.
- É mesmo? - Ele sorriu.
- É... eu tinha um poster dele sobre minha cama. Sonhava acordada, todos os dias. Depois que nós conhecemos vocês, ele se revelou uma pessoa diferente do que eu sempre imaginava... eu peguei esse "diferente" e transformei em "ruim". Para mim, a ilusão tinha acabado.
Taylor a olhava em silêncio.
- Mas ele não é ruim... - Ela continuou. - É uma pessoa incrível... só é diferente... só isso. - As lágrimas voltaram a escorrer pelo rosto dela. - E eu já o amei tanto um dia, como pude ser tão horrível para ele, Taylor? Como?
- Jéssica, fique calma... sei que você está angustiada, mas se quiser, poderá se desculpar com ele quando ele acordar. Vá pensando no que dizer.
- Você é sempre tão otimista... - Disse ela, ensaiando um sorriso.
Ele riu de leve.
- Imagine só se vocês dois estivessem se casado... ia ser briga o dia inteiro.
- É. - Ela engasgou, entre uma risada e um soluço. - Ainda bem que a Kate apareceu pra colocar ele na linha.
- Falando no diabo... - Murmurou Taylor. Jéssica ergueu o rosto. Kate se aproximava apressada pelo corredor, parecendo cansada. Pelo visto, ela também passara boa parte da manhã chorando.
- Alguma notícia? - Perguntou à Taylor, parando diante dele.
- Nada ainda. Mas tenha calma, ainda vamos receber os resultados dos exames.
- Não me peça para ter calma. - Disse ela friamente, virando-se em seguida para Jéssica. - Dá pra você me explicar o que aconteceu naquele carro? Zac sempre foi um ótimo motorista.
- Nós... ele...
- Um animal cruzou a estrada. - Taylor se adiantou. - Ele foi tentar desviar e acabou batendo. A Jéssica estava dormindo.
Kate fungou alto.
Ele sempre foi tão bom com os animais... - Disse, se afastando para o quarto em que o marido se encontrava.
Jéssica olhou para Taylor, profundamente agradecida.
- Nossa... muito obrigada. Mesmo.
- Não fique tão feliz, ele provavelmente vai contar toda a verdade para ela quando acordar.
- Ainda assim, ganhei mais um tempinho de vida.
Perceberam um médico chegando. Carregava em suas mãos uma prancheta, e mantinha o olhar sério na direção do quarto de Zac. Taylor se levantou antes que ele pudesse chegar à porta.
O senhor tem os resultados?
- Sim, estou indo conversar com os pais do garoto.
- Por favor, fale comigo. - Taylor entrou na frente dele. - Se houver algo de errado posso preparar minha mãe para a notícia.
O médico o olhou de cima a baixo. Os cabelos grisalhos e o rosto marcado pelo tempo passavam uma imagem de sabedoria. Sua expressão, entretanto, não era muito animadora.
- Você é da família?
- Sou o irmão dele.
O doutor baixou os olhos para seus papeis.
- Ele teve as pernas quebradas no acidente, e uma compressão na medula. Também sofreu um traumatismo cranioencefálico, que pode levar a alguma sequela quando ele acordar, se ele acordar.
Era uma notícia pior que a outra. Jéssica, que estava ouvindo, se levantou chorando.
- O que isso tudo significa?
- Você é a esposa?
- Não, eu estava com ele no carro. - Choramingou. Taylor passou o braço por trás de seus ombros, tentando confortá-la. O médico a encarou.
- Você tem muita sorte de não ter se machucado. - Comentou ele. - E o sr. Hanson tem muita sorte em estar vivo. Respondendo sua pergunta... ele bateu a cabeça, mas não podemos saber se houve alguma sequela até que ele acorde. E quanto à lesão na medula, bem... ele terá muita sorte se voltar a andar.
Jéssica começou a chorar mais ainda, arrependida. Só queria poder voltar no tempo. Taylor, embora também estivesse assustado, tentou manter a sanidade.
- Calma, Jéssica.. doutor, eu não me importo, nem que você tenha que fazer um milagre... isso não pode acontecer, ele tem dois filhos pequenos...
O médico deu um meio sorriso.
- Não acredito em milagres. Mas farei tudo que estiver ao meu alcance.


Dias difíceis se seguiram. Todos passavam maior parte do tempo no hospital, na esperança de que Zac acordasse. Mas ele não havia se movido. No fim da segunda semana, a maior parte da família estava de volta em Tulsa, com a promessa de visitar o hospital toda semana. Diana apenas concordou em ir depois de Taylor prometer que ficaria em Nova York, e nunca deixaria Zac desacompanhado.
Jéssica era a que passava mais tempo no quarto de Zac. Até então, não havia tido oportunidade de conversar a sós com Caroline, mas a chance surgiu em uma quinta feira chuvosa, quando a amiga apareceu na porta com um enorme cobertor.
- Jess? Ike pediu para eu te trazer isso. - Disse ela, se aproximando. - Ele está preocupado, você não sai daqui nunca....
- Não posso... - Disse a menina, baixinho, mas aceitou o cobertor.
- Como você está? - Perguntou Caroline, cautelosamente. Sabia que a garota andava muito sensível nos últimos dias.
- Mal. Só quero que ele acorde logo.
- Ele vai acordar... Jéssica, por que você não vai para o hotel? Faz tempo que você não dorme direito... lá a cama é boa.
- Não posso ir. - Repetiu a garota. - Ele vai ficar aqui sozinho...
- Eu fico aqui. Só mais duas horas até o horário de visita acabar.
Jéssica a olhou, dividida entre a relutância em sair dali e a vontade de descansar um pouco.
- O Taylor não vai achar ruim?
- Claro que não. - Caroline puxou a amiga, tomando o lugar dela na cadeira. - Vá.
Jéssica hesitou por um momento, mas sabia que faria melhor se fosse embora. De qualquer maneira, não adiantava nada insistir em ficar ali; Zac não podia vê-la.
- Ok, eu vou. Qualquer coisa me ligue.
- Não espere acordada. - Caroline sorriu, tentando acalmá-la. A amiga retribuiu o sorriso, sem muita animação, e se foi.
A tarde chegava ao fim, e o hospital estava bem silencioso. O único barulho no quarto era o do aparelho ao lado da cama de Zac, medindo seus batimentos cardíacos. Caroline tentou cantarolar baixinho para abafar o ruído irritante, mas sua voz não era muito melhor que aquilo. Desistiu.
- Zac? - Ela se levantou, aproximando-se lentamente dele. Era estranho vê-lo tão impotente daquela maneira.
- Você precisa acordar logo. - Disse, afastando gentilmente os cabelos de sua testa. - Estamos todos muito preocupados.
Olhou para o rosto impassível de seu cunhado. Será que ele podia ouví-la?
- Kate voltou para Tulsa há alguns dias. Ela têm rezado muito. - Tagarelou. - E seu filho está com saudades. Sua filha também, ela anda super chorona. Acho que sente falta...
Sua voz foi sumindo no silêncio melancólico do quarto.
- Zac? Você está me escutando? - Caroline apertou de leve a mão dele, mas não houve reação alguma. - Aposto que está... aposto que está rindo por dentro, por eu estar falando sozinha...
Largou a mão dele, sentando ao seu lado na cama. Sentia-se realmente idiota em estar conversando com alguém em coma, mas era melhor do que ficar ouvindo o barulho do eletrocardiograma.
- E a Jéssica... - Continuou ela. - Ela está chorando o tempo inteiro também, acho que se culpa pelo que aconteceu. Mas ela está bem, sofreu apenas alguns arranhões. Eu e o Taylor voltamos de Paris porque queríamos estar aqui para vocês dois... apesar de que não estamos perdendo muita coisa. Sabe, estava estranho lá, na noite em que chegamos não conseguimos... você sabe... consumar o ato. - Ela olhou constrangida para o rosto imóvel de Zac. - A culpa foi minha, é claro, não dele... ele estava assanhado mas eu amarelei... será que vai ser assim sempre? A Kate é assim com você? Óbvio que não né, vocês já tem dois filhos.... Meu Deus... - Ela se levantou, um pensamento ocorrendo pela primeira vez. - Os filhos! A Natalie teve quatro, e está no quinto! Como é que eu vou corresponder às expectativas dele? Zachary, droga, me deixou preocupada.
Começou a andar em círculos, sem perceber que os batimentos de Zac haviam diminuído seu ritmo. Se virou apenas quando ouviu um murmúrio às suas costas.
- Zac? - Ela se espantou, aproximando-se da cama. Voltou a segurar a mão dele. - Zac?
Ele abriu os olhos, assustando-a. Piscou algumas vezes e voltou a fechá-los, tombando a cabeça para o lado.
- Zac! - Caroline não entendia o que havia acontecido. Se afastou subitamente, derrubando a cadeira, na pressa de chegar ao corredor.
- Alguém pode me ajudar? - Gritou. Sua voz ecoou no hospital deserto; dois enfermeiros, ao longe, haviam acabado de entrar em outro quarto. - Alguém? Meu amigo está com problemas aqui!
Não obtendo qualquer resposta, voltou para o lado de Zac. A boca dele tremia, sem emitir som algum.
- Você está me ouvindo?
- Ela o chacoalhava. Apenas parte de sua mente registrou o barulho de passos se aproximando do quarto; estava mais concentrada no monitor ao lado da cama. Os batimentos de Zac diminuíam gradativamente, enquanto os seus próprios aceleravam, tal era seu desespero. Começou a sentir uma tontura horrível, que a obrigou a se apoiar sobre o cunhado.
- Zac? Não faça isso comigo... ok? Você não pode...
Sentiu seu corpo desfalecer sobre o de Zac, embora ainda estivesse lutando para entender o que se passava no quarto. Podia ouvir as vozes urgentes dos médicos dando ordens, e sentir alguns pares de mãos a puxando para trás. Depois disso, entrou em um estado de total inconsciência.


Quando abriu os olhos, notou imediatamente o rosto redondo a observando. Estava fora de foco, mas ela podia ver o par de olhos claros piscando curiosos em sua direção.
- Tay...?
O rosto se afastou, deixando um perfume floral no ar. Simultaneamente, uma voz fina ecoou pelos corredores.
- Mããããeeeee, ela acordou!
- Fique quieta Zoe, estamos em um hospital. - Alguém repreendeu. Caroline se apoiou nos cotovelos, tentando se localizar. Estava realmente no hospital, e ao que parecia, era uma paciente.
- Confusa? - Perguntou alguém ao seu lado. Ela virou o rosto assustada e descobriu Zac a observando de uma cama no outro lado do quarto.
- Zac? Meu Deus, você acordou! Ou... fui eu que não acordei...? - Indagou, se recordando aos poucos do que acontecera. A última coisa que se lembrava era de ter perdido os sentidos ao tentar ajudá-lo. Mas por algum motivo, o comentário o fez rir.
- Não, você não está morta. E nem eu, por incrível que pareça. - Embora ele estivesse sorrindo, parecia bem fraco. Uma enorme atadura cobria a maior parte de sua cabeça, e até mesmo os movimentos mais simples pareciam lhe custar um enorme esforço.
- Ainda bem... Por que eu estou aqui? - Perguntou, sem realmente esperar uma resposta. Zac abriu a boca, talvez para dizer que não fazia a menor ideia, mas naquele momento, Taylor e Diana entraram no quarto. Ela foi em direção a Zac, enquanto Taylor se aproximou de Caroline.
- Que bom que você acordou. - Disse ele com um sorriso, acariciando os cabelos dela.
- O que houve?
- Você desmaiou... o médico já deve estar vindo para conversarmos.
Sabendo que não receberia mais explicações naquele momento, Caroline olhou à volta. Zac estava conversando com sua mãe.
- Ele começou a despertar do coma ontem a noite... - Comentou Taylor, percebendo seu interesse. - Mas só acordou pra valer de madrugada. Todos já passaram por aqui hoje, menos a Jéssica. Mas provavelmente ela virá mais tarde.
- Ele parece estar bem melhor... - Disse Caroline, sem tirar os olhos do cunhado.
- Ele não se lembra de quase nada do acidente, e está meio lento... mas isso não é o pior... - Falou baixo, para que somente Caroline o escutasse.
Ela ergueu os olhos para Taylor, se assustando com a expressão angustiada dele.
- Achamos que ele não vai voltar a andar...
- Muito bem, a família Hanson... - Disse uma voz poderosa, adentrando o quarto. Caroline reconheceu o médico grisalho que andara cuidando de Zac. - Primeiro as damas. Como está se sentindo? - Ele perguntou à menina, se aproximando da cama dela.
- Bem. - Disse timidamente, notando que todos os olhares do quarto estavam voltados para ela. - O que houve comigo?
- Você teve uma arritmia, que causou uma série de alterações na pressão arterial, por isso desmaiou.
- Mas por que...
- Conversei com os médicos que te encontraram, e aparentemente, você ficou muito nervosa quando o sr. Hanson aqui começou a despertar do coma, estou certo? Emoções muito fortes causam a aceleração abrupta do coração, o que resultou no desmaio.
- Eu não sabia que ele estava acordando. - Disse Caroline, em sua própria defesa. - Achei que estivesse acontecendo algo errado...
- Ei... - Falou Taylor de repente. - Emoções muito fortes? Será que foi isso que aconteceu em Paris quando nós íamos...
- Doutor, isso é grave demais? - A garota o interrompeu rapidamente ao perceber a direção que seu pensamento tomava. O médico preferiu fingir que não ouvira o comentário de Taylor.
- Eu não posso dizer com certeza, não sou um especialista. Por isso estarei te encaminhando à um cardiologista... é um colega meu, ele poderá te dar mais detalhes e fazer alguns exames. Fui informado da sua situação, e muito me admira que não tenha procurado um médico. Você precisa de acompanhamento constante. - Repreendeu ele.
- Mas eu tinha... - Reclamou Caroline baixinho. - No Brasil... - As palavras se perderam, pois o médico se afastava para o lado de Zac.
- Já você, irá ficar aqui mais alguns dias... - Disse ele, olhando em sua prancheta. - Como está?
- Minha cabeça está doendo um pouco. - Disse Zac. - E não sinto minhas pernas. Isso é normal?
Todos no quarto se entreolharam, deixando o rapaz um pouco ansioso.
- Hein? - Insistiu ele.
Ninguém respondeu. O celular de Taylor tocou, quebrando o silêncio.
- É o Ike. - Disse, olhando para a mãe. - Está esperando vocês no carro.
- Eu volto logo, Zac. - Diana beijou o filho mais novo na testa. - Vamos levar a Zoe ao aeroporto, seu pai vem buscá-la.
O médico a observou sair do quarto, voltando-se para Taylor.
- Você precisa assinar uns papeis para que ela tenha alta. - Disse, indicando Caroline com a cabeça. - Se puder vir comigo....
Por fim, ficaram somente Zac e Caroline no quarto novamente. Ela, que se sentia perfeitamente bem, o olhava com pena.
- Que foi? - Ele ficou incomodado com o olhar dela.
- Nada. - Caroline desviou os olhos rapidamente.
- Loucura isso hein?
Ela não sabia a que exatamente ele se referia, então apenas concordou com a cabeça.
- Espero que fique tudo bem com você. - Falou ele. - Os exames e tudo o mais... quer dizer, é claro que vai ficar, mas esse médico é meio assustador, você não acha?
Ela assentiu.
- Zac, você está bem?
- Estou, de verdade. Só um pouco confuso.
- Como foi? - Perguntou Caroline. - Sabe... quando você não estava acordado... - Ela não conseguiu conter sua curiosidade. Desde que descobrira sobre seu problema cardiológico, temia passar por aquela experiência, e nunca havia conhecido alguém que tivesse ficado em coma.
- Muito estranho... - Disse Zac, compreendendo o interesse dela. - Eu ouvi muitas vozes... As vezes eram as de vocês, mas nem sempre... acho que ouvi a voz dos meus avós. E de outras pessoas que já partiram.
Caroline sentiu um calafrio percorrer sua espinha.
- Talvez tenha sido apenas um sonho...?
- Pode até ser. Mas então foi um sonho bem real.
Zac olhou para o rosto assombrado da garota e sorriu; por pior que fossem as circunstâncias, estava gostando da atenção que ela dedicava a ele, algo que não acontecia normalmente.
- Eu também sentia vocês me tocando o tempo inteiro. Mas meus músculos não reagiam, eu me esforçava, mas parecia que meu cérebro dizia "não... não se mexa", e era simplesmente mais confortável obedecer.
- Nossa...
- Não se preocupe, você não vai passar por isso. - Comentou ele, acertando em cheio o rumo dos pensamentos da menina.
- Você não sabe...
- Eu sei sim, acredite. Você já sofreu o suficiente, é boa demais para ter de passar por isso também. Não vai acontecer.
Um silêncio constrangedor tomou conta do quarto.
Taylor voltou naquele instante, poupando Caroline de pensar em uma resposta para aquele comentário.
- Zac, o doutor Barba, ou sei lá que nome tenha, disse que está vindo conversar mais com você.
- Doutor Bamford. - Corrigiu Zac distraidamente. Olhava para a porta, como se esperasse por alguém.
- Ei... por que a Kate ainda não veio me ver?
- Não sei. - Falou Taylor, que não havia pensado nisso. - Mas vou voltar para o hotel e falo com ela. Carol, você já teve alta, podemos ir.
- Vão me largar aqui sozinho? Sério mesmo? - Reclamou Zac. Taylor e Caroline se entreolharam.
- Zac...
- Tudo bem, agora que o idiota do Zachary já acordou, vocês precisam voltar aos seus afazeres mais importantes. Não se preocupem, é totalmente aceitável.
- Não fale assim...
- Eu fico com você. - Disse uma voz à porta. Todos se viraram. Jéssica, que havia surgido sabe-se lá de onde, estava ali parada, olhando para eles. Caroline sentiu vontade de rir; aquelas aparições dramáticas eram típicas dela.
Zac parecia surpreso. Taylor aproveitou a deixa para sair de fininho com Caroline, temendo que o irmão recomeçasse com o discurso. Jéssica se viu sozinha com a única pessoa que gostaria de evitar para sempre. Mas não podia.
- Como você está? - Perguntou ela, cautelosa, caminhando lentamente até ele.
- Bem, na medida do possível. - Ele forçou um sorriso, olhando-a de cima a baixo. - Parece que com você não aconteceu nada. Isso é muito bom.
Jéssica não foi capaz de identificar se aquele comentário havia sido irônico. Aproximou-se mais da cama, sentando na beiradinha.
- Zac... - Começou ela, sem jeito, sem conseguir olhar nos olhos dele. - Você se lembra do acidente?
- Me lembro o suficiente para saber que mereci o que aconteceu....
Ela ergueu os olhos, espantada. Por um momento, não soube o que responder.
- Não diga isso. Nunca.
- Mas é verdade, Jéssica... nunca deveria ter falado daquele jeito com você. Eu poderia estar morto agora, e nunca teria tido a chance de me desculpar. Por isso, é o que estou fazendo agora. Me perdoa?
- Você nem precisa pedir isso. Nós... nós estávamos tão preocupados... - Sua voz tremia de leve. Os olhos estavam marejados. Ele balançou a cabeça, sorrindo.
- Está tudo bem agora. E eu aprendi minha lição. Vocês todos são muito importantes pra mim... são minha família. É, você também. - Completou, vendo o olhar de descrença da menina. - Você é como uma irmã para a Caroline, e ela agora é minha família. Então você também é.
- Zac...
- Estou interrompendo? - O médico grisalho estava de volta. Entrou no quarto sem esperar uma resposta, indo direto até seu paciente.
- Bem, não.
- Você parece estar se recuperando bem rápido.
- Estou bem. - Disse Zac, talvez pela milésima vez naquele dia. - Acho que estou pronto para ir pra casa.
Doutor Bamford o encarou de modo severo. Sua expressão não revelava o que quer que estivesse passando por sua cabeça.
- Ok. - Disse ele. - Pode ir.
Jéssica olhava de um homem para o outro, parecendo preocupada. Já Zac, apenas ergueu uma sobrancelha, um ar risonho no rosto. Moveu o tronco para frente, tentando se levantar, mas suas pernas não obedeceram. Fez uma nova tentativa; e voltou a encostar no travesseiro, frustrado.
- Não consigo me mover.
- Será assim por algum tempo. - Disse o médico gentilmente.
- O que??
- Os danos na sua coluna foram graves. Você irá precisar de muita fisioterapia para voltar a andar. Mas com o tempo, talvez aconteça.
Zac arregalou os olhos, desacreditando no que ouvia.
- Zachary, vou deixá-los um pouco a sós, mais tarde volto para discutirmos melhor sobre isso. - Dr. Bamford deu um último sorriso de incentivo e deixou o quarto. Jéssica, que estivera colada à parede, se aproximou. Zac parecia ter esquecido que ela estava lá.
- Eu sinto tanto... - Disse ela baixinho.
Ele a olhou, sem reação.
- Não vou poder mais tocar... - Falou, expressando seus pensamentos.
- Vai sim Zac. Você ouviu o médico, é tudo questão de tempo.
Ele não a estava escutando. Olhou para as próprias pernas imóveis sobre a cama, desolado.
- Questão de muito tempo....
Jéssica se afastou, querendo esconder o rosto, a culpa voltando a corroê-la por dentro. Só queria sair de perto dele, mas não podia deixá-lo sozinho naquele momento. Para sua sorte, Diana reapareceu, já sem a companhia de Zoe, e disposta a passar o maior tempo que pudesse ao lado do filho.
- Zac, querido. - Ela viu a expressão mortificada no rosto dele. - O que houve?
- Nada mãe... só acabo de descobrir que irei me aposentar mais cedo.


Apesar dos protestos de Zac, Taylor e Isaac não permitiram que ele deixasse a banda, tampouco aceitaram a ideia de substituí-lo.
- Zac, convenhamos...- Isaac sorria para o irmão. - Nós temos dois tipos de fãs. As team Taylor e as team Zac, não vamos fingir que isso não é verdade. Sem você a banda não é nada. Ou é apenas cinquenta por cento.
Todos estavam sentados no estúdio, Zac em uma cadeira de rodas. Ele riu; pela primeira vez em muitos dias.
- Isso é verdade. - Disse, convencido, retomando o ar sério em seguida. - Mas o que você propõe, Ike?
- Escute, eu acho o seguinte... - Taylor se adiantou. - Nós paramos com a banda se essa for a SUA vontade. Se quiser que continuemos, você vai ficar. Ainda pode compor músicas, não pode? Você pode usar um teclado. Ou um violão.
- Não tenho certeza disso...
- O que você acha, Caroline? - Perguntou Isaac.
- Hã... - A garota ergueu os olhos, surpresa por terem pedido sua opinião. Olhou para Zac, que a observava com o rosto cheio de expectativa.
- Eu não sei... acho que vocês não precisam resolver isso agora, dêem um tempo a ele... sem pressão.
Isaac não pareceu muito feliz com a resposta, mas não se deu ao trabalho de perguntar também à Jéssica. Há muitos dias, enquanto todos estavam reunidos ali, ela ficava sozinha em um canto, batendo distraidamente nas teclas do piano de Taylor. Este, por sua vez, não desviava a atenção dela, com ciúmes do instrumento. Mas entendia que ela estava passando por uma situação complicada, então fingia não se importar.
- Bom, é melhor a gente ir. - Disse Taylor à Caroline, se levantando. - Temos a consulta, esqueceu?
- Ah. - Ela o acompanhou, desanimada. - Vocês vão ficar aí?
- Na verdade, se importam em me dar uma carona? - Pediu Zac, girando a cadeira na direção deles. - Preciso ir um pouco para casa, Kate está reclamando que eu fico muito tempo aqui.
- Claro. Ike?
- Eu vou ficar mais um pouco. Até logo. - Disse Isaac, sem olhar para eles. Estivera observando Jéssica, e logo após todos saírem, se aproximou.
- Jess?
Não houve resposta. Caminhou lentamente em direção à menina, mas ela parecia concentrada demais para notá-lo.
- Jéssica? - Insistiu. Ela somente se deu conta da presença de Isaac quando ele sentou ao seu lado no banco do piano.
- Oi. - Ela forçou um sorriso. - Desculpe. - Disse, puxando os fones do ouvido.
- Eu que peço desculpas, não vi que estava escutando música. - Falou ele, formalmente. - O que está ouvindo?
- Nada... - Ela fez menção de desligar o Ipod, mas ele foi mais rápido. Puxou um dos fones levando-o à própria orelha, somente para tirá-lo segundos depois, assustado com a altura em que a música estava.
- AC/DC?
- É... me ajuda a pensar melhor.
- E te deixa surda. - Ele riu de leve, mas ela apenas mexeu no cabelo, incomodada.
- Ei, Jéssica. O que anda acontecendo com você?
- Como assim? Estou bem.
- Qual é, sabemos que não está. Você costumava não calar a boca por um minuto, e agora mal fala duas palavras por dia... sentimos falta da antiga Jéssica, sabia?
Ela olhou feio para Isaac. Não gostou nada dos verbos no plural; a impressão que teve foi que eles andaram discutindo sobre ela por suas costas, e haviam eleito Isaac para tentar uma conversa. Dividiu com ele essa impressão.
- Não é nada disso. - Falou Isaac, após ouvir aqueles absurdos. Só estamos preocupados, nem mesmo o Zac está tão abatido...
- Foi culpa minha. Não do Zac. - Disse ela com firmeza. - Acho que nunca mais serei capaz de olhar nos olhos dele.
Isaac permaneceu em silêncio. Jéssica viu nisso uma deixa para continuar a falar, desabafar o que andara guardando para si nos últimos dias.
- Ike, você tem noção do que eu fiz? Eu acabei com a vida dele, e quem sabe a proporção que isso ainda não irá tomar? Por minha culpa, ele não pode mais andar. Por minha culpa, a banda está correndo riscos de acabar. Vocês sempre viveram no seu mundo perfeito e não podem compreender, mas para algumas pessoas, a música de vocês é a maior razão para continuarem vivas. E eu estou tirando isso delas, Ike. Eu.
Dito isso, começou a chorar. Escondeu o rosto nas mãos, envergonhada, mas não conseguia conter os soluços. Isaac deu um tapinha em suas costas, sem jeito.
- Para com isso... você precisa tirar essa ideia da sua cabeça... não foi sua culpa.
- Mas ele...
- Zac não acha que foi sua culpa. Acidentes acontecem, Jéssica. Entenda isso. Pode parecer injusto, mas se aconteceu foi por algum motivo... acho que todos nós aprendemos algo com tudo isso.
Ela enxugou os olhos.
- O que você aprendeu?
- Bom, que cada momento pode ser o último. Que não vale a pena perder tempo com discussões, quando as pessoas que amamos podem nos ser tiradas a qualquer instante. E o Zac ama você Jéssica, somos como uma família. - Isaac, sem saber disso, repetiu as palavras que ela já ouvira antes. - Tenho certeza que ele não quer vê-la se sentindo culpada, penso que ele quer aproveitar a felicidade de todos estarmos vivos. E bem... acho que gostaria que você fizesse parte disso. Você é importante para nós, não fique nos evitando.
Ela ficou calada por um momento. Por fim, abriu um sorriso.
- Obrigada Ike... de verdade. Acho que só preciso de um tempinho para superar essa história, mas vou ficar legal. E vou estar lá para vocês quando precisarem, especialmente o Zac.
- Eu sei disso. - Ele a beijou no rosto e se levantou, sua missão ali já cumprida. - Eu também devo ir para casa... quer uma carona?
- Não precisa... acho que vou andando.
Ele deu de ombros e sorriu, acenando para ela ao se virar para ir embora. Jéssica, que se sentia muito melhor depois daquela pequena conversa, o observou sair pela porta. A cada dia gostava mais dele.


*****


A consulta com o novo cardiologista havia sido tranquila. Caroline havia feito alguns exames, cujos resultados saíriam no dia seguinte. Taylor ficou ansioso, andando de um lado para o outro no apartamento, mas ela não poderia estar menos interessada.
- Dá pra ficar calmo? Ele não vai dizer nenhuma novidade, tenho certeza. - Disse ela, depois de ele ter quebrado o terceiro copo naquele dia.
Taylor não gostou do menosprezo por sua preocupação.
- Claro... só me diz mais uma vez, eu sou uma emoção muito forte para você? - Ele perguntou, querendo provocá-la. Deu certo. Caroline corou e sai bufando dali.
Desde que saíram do hospital, não haviam tocado no assunto dos desmaios da menina. Por outro lado, Taylor estava tentando se controlar e não fazer nada que pudesse deixá-la nervosa; o que estava sendo um sacrifício, pois vê-la sem jeito e envergonhada sempre havia sido uma de suas maiores diversões.
Quando o telefone finalmente tocou, Taylor pulou para atendê-lo.
- Carol, é o médico. - Berrou ele feliz, e ela se aproximou, parecendo aflita.
- Não, eu não posso ir até aí, por favor, me diga por telefone mesmo. - Falou Taylor, andando em círculos pela sala. Ela o acompanhava com os olhos, esfregando uma mão na outra nervosamente.
- Aham... aham... entendo. - Parou de andar. Caroline não sabia o que o médico estava dizendo, mas a expressão de Taylor não era das melhores. Ele a encarou, mantendo o telefone no ouvido.
- Aham... ok. - Passou uma mão pelos cabelos, gesto que indicava seu nervosismo. Mas continuava a observá-la de modo sério.
- Ahn... eu vou...ali... - Disse Caroline, saindo da sala rapidamente. Se trancou no banheiro, colando o ouvido à porta.
- Aham... eu sei... aham... ok. Está bem, obrigado. - Taylor desligou o telefone, e ficou olhando para ele por um segundo, apenas pensando no que acabara de ouvir. Pigarreou.
- Hum... Carol? - Chamou, na voz mais doce que conseguiu fazer. - Caroline, querida?
Ela não respondeu. Ele se aproximou do banheiro, batendo na porta de leve.
- Amor? Vamos conversar? - Pediu ele.
- Vamos... - Ele ouviu ela responder baixinho. A porta se abriu, e o rosto envergonhado da garota apareceu.
- Diga.
- O médico me disse algumas coisas bem estranhas. Quer saber o que foi?
- Na verdade não muito. Ei, você quer café? - Perguntou ela sorrindo e se afastando para a cozinha, mas Taylor segurou seu braço.
- Caroline... - Ele repreendeu.
- Ok, ok. - Disse ela, vencida. - Mas vamos nos sentar.
Ele a acompanhou até a sala e sentou no sofá ao seu lado. Mais uma vez, passou as mãos pelos cabelos, suspirando alto antes de olhar para ela.
- Carol, lembra quando pedi você em casamento?
- Lógico que me lembro, você foi tão lindo, me surpreendeu com um...
- É, mas onde você estava antes daquilo?
- Como é?
- Você tinha saído, não é? - Pressionou ele, impaciente. - Para onde mesmo?
- Acho que estava no médico. - Ela respondeu, parecendo repentinamente interessada em uma mancha no carpete.
- É, era isso mesmo. E o que o médico havia falado sobre o bebê?
- Que estava tudo bem...?
- Bom, sim. E olha só que esquisito... esse novo médico disse que não está tudo bem. Que você devia ter abortado ao descobrir, por motivos de saúde. Que o seu corpo não suportaria o processo da gravidez, muito menos o do parto.
Caroline ficou em silêncio, e o encarou, sem demonstrar emoção alguma. Mas suas bochechas, cada vez mais vermelhas, a traíram. Taylor se alarmou.
- Meu Deus, você mentiu pra mim??
- Tay, me desculpa! - Choramingou ela, confessando. - Mas pra mim não faria a menor diferença, eu jamais teria coragem de fazer isso! E não é verdade, está vendo? Eu já estou quase no fim da gravidez e não aconteceu nada demais!
- Mas por que não me disse? Eu não teria ido embora, mas poderíamos ter dado um jeito nisso juntos.
- Viu só, agora você acha que não contei para te manter por perto! E não é assim, eu sempre amei esse bebê porque sempre amei você, eu pensava que ele seria tudo que eu teria de você e agora você acha que eu devia ter tirado... - Ela começou a chorar, sua voz se tornando cada vez mais aguda.
- Calma... por favor. - Taylor se assustou com a reação. Abraçou-a pelos ombros. - Eu não acho nada disso... fique calma, ok?
- Ok... - Ela fungou, secando o rosto na blusa e retribuiu o abraço, escondendo o rosto no peito dele. Taylor não sabia se aquelas mudanças repentinas de humor eram por causa dos hormônios ou se simplesmente ela era uma boa atriz.
- Carol, ele disse que nossa única chance é um transplante, mas que você não poderá receber um enquanto estiver grávida. Agora teremos que esperar.
Ela se afastou, sorrindo de leve para ele. Não parecia nem um pouco surpresa.
- Então acho que vamos esperar para sempre.
- Como assim?
- Taylor, é quase impossível conseguir um transplante. Eu estou na fila desde os dezesseis anos e nunca aconteceu, nem vai acontecer.
- Mas isso era no Brasil, aqui é diferente. Eu não quero saber, nós vamos tentar.
Caroline deu de ombros, desviando o olhar.
- Carol?
- Estou chateada Taylor. - Disse ela, antes que ele pudesse perguntar. - Tenho tudo para ser feliz, eu tenho você... tenho um bebê seu, tenho minha melhor amiga perto de mim. Só não tenho um coração que suporte tudo isso.
Ele sorriu e puxou-a para si, fazendo com que ela voltasse a apoiar a cabeça no seu peito.
- Está ouvindo? - Perguntou. Ela sentiu os batimentos acelerados. - É assim que ele fica quando estou com você. Você também é uma emoção muito forte para mim. Só que eu disfarço bem melhor.
Ela riu baixinho.
- E ele pode não ser muito útil para você de onde está... mas também é seu. Sempre vai ser.
- Eu te amo - Caroline o abraçou mais forte.
- Eu também... - Disse ele, beijando-a na testa. - Afinal, por quem mais eu seria capaz de suportar um casamento sem sexo? - Foram suas últimas palavras antes de ser espancado violentamente com uma almofada.



*****



- Taylor?
- O que você quer, Zac? - Cochichou Taylor no telefone, acendendo a última vela que faltava. O quarto estava mergulhado na semi escuridão, uma música calma tocando no fundo.
- Você está ocupado?
- Bem, sim. Diga logo o que quer. - Falou ele com impaciência, ao ouvir o chuveiro ser desligado.
- Desculpe... eu não queria incomodar vocês... eu só precisava falar... sabe...
- Zac!
- Kate me deixou.
Taylor olhou para o telefone, sem acreditar no que estava ouvindo.
- O que??
- Ela foi embora hoje. Voltou para Georgia. Levou meus filhos. - Lamentou Zac, choroso. - Taylor... eu acho que ela tem outra pessoa lá... já que... você sabe que eu não estou sendo capaz de... er...
- Sei. - Disse Taylor com firmeza. Afinal, passava por praticamente a mesma situação.
- Pois é... e Kate é uma mulher que precisa ter suas necessidades supridas...
- Minha nossa...
- Acho que ela não vai voltar mais... ela disse que ia embora porque não suportava mais me ver desse jeito, mas eu sinto que não vai voltar... eu não tenho mais ninguém...
- Zac, fique calmo, você tem a nós. - Falou Taylor, ao notar que o irmão estava à beira das lágrimas. - Você quer que eu vá até aí?
- Por favor... se você puder...
Taylor suspirou baixinho.
- Não se preocupe, estarei aí em meia hora.
Desligou o telefone e se apressou em apagar as velas. Mas quando Caroline saiu do banheiro, a música relaxante continuava tocando.
- Tay? O que estava fazendo? - Perguntou ela, desconfiada.
- Nada. - Ele sorriu amarelo, tentando dispersar o cheiro doce das velas aromáticas, que continuava no ar, enquanto ia desligar o rádio. Ela se aproximou da cômoda, onde havia um pequeno tubo destampado.
- Gel lubrificante?? - Se assustou ao ler o rótulo. - Taylor!!
- Kate abandonou Zac. - Ele mudou de assunto na velocidade da luz.
- O que?
- Ele acabou de ligar, está bem mal. Ela foi embora com as crianças.
- Que piranha maldita... - Caroline deixou escapar.
- Eu concordo com você... preciso ir até lá.



As coisas se tornavam mais difíceis a cada semana que passava. Taylor dividia toda sua atenção entre Caroline e Zac, mas passara a dormir na casa do irmão. Ele se recusava a deixar aquela casa, na esperança de que Kate fosse voltar, mas se sentia muito mal quando ficava só. Jéssica ocupou o lugar de Taylor no apartamento para fazer companhia à amiga, mas quando Caroline entrou no sétimo mês de gravidez, precisaram trocar.
- Jéssica, por favor. Você passa um tempo na casa do Zac, só pra ele não ficar sozinho. - Pediu Taylor. - Não precisa conversar muito com ele... só fique lá.
Jéssica suspirou, mas não tinha muita escolha. Ela havia prometido que superaria o que tinha acontecido, e estaria lá para Zac quando ele precisasse. Ainda assim, não era fácil olhar para ele.
- Eu posso ficar lá com vocês. - Isaac se ofereceu. - Nikki não vai se importar. É até melhor, acho que quanto mais gente na casa melhor para o Zac, acho até que deveríamos levar algumas crianças. Tay, você não quer emprestar um dos seus filhos?
Taylor revirou os olhos no momento em que seu celular começava a tocar.
- É a Natalie. - Disse ele surpreso, se levantando e indo atender o telefonema na cozinha. Caroline cruzou os braços, bufando baixinho.
- Haha, olha isso Ike. Ela está com ciúmes.
- Não estou, cale a boca.
- Eu acho que a Jéssica está certa. - Disse Isaac, rindo. - Não se preocupe Caroline, ela provavelmente quer falar algo sobre a gravidez.
Caroline olhou para ele.
- A gravidez dela. - Ele se apressou em concluir.
A verdade era que Taylor não estava dando atenção suficiente à ex-esposa, mas isso havia sido uma decisão dela. Seria o melhor a se fazer, se quisessem evitar brigas.
Taylor logo estava de volta, com o celular nas mãos e um olhar aterrorizado no rosto.
- Tay?
- Ahn... - Ele resmungou.
- Taylor, você está bem? - Perguntou Isaac.
- É, estou. Adivinha só? - Disse ele, forçando um sorriso para o irmão. - Parece que eu posso sim emprestar um dos meus filhos para o Zac.
- Hein?
- Natalie acabou de me dizer que está indo para Georgia ficar com Kate. Disse que ela está passando por um momento complicado com a separação e que pretende ficar lá até o fim da gravidez.
- Quem está passando por um momento complicado? - Perguntou Jéssica, confusa. - Kate ou Natalie?
- Kate, oras. - Disse Taylor, como se fosse o óbvio. Isaac assoviou baixinho.
- Uau... então agora já é separação? Será que o Zac sabe disso?
Taylor ignorou a pergunta, virando-se para Caroline.
- Teremos companhia.
- Quem? - Perguntou a menina. Mal ela havia terminado a frase, e alguém tocou a campainha. Taylor foi atender, parecendo apreensivo.
Quatro crianças entraram como um foguete pela porta e dispararam até a cozinha, deixando todos desnorteados. Ele continuou parado onde estava, diante de uma mulher que lhe dava instruções.
- ... e a Natalie mandou avisar que as crianças dormem as oito horas em ponto, nem um minuto a mais. Essa aqui é a mala da Penny, essa é a do Ezra, e as coisas dos mais novos estão aqui. - Dizia, jogando várias bolsas no colo de Taylor. - Eles vão para a aula às nove e voltam depois do almoço, e Viggo tem uma consulta no pediatra na semana que vem, você não pode esquecer. Penny tem aula de natação às terças e quintas e Ezra vai ao futebol todas as segundas, Natalie mandou entregar esse calendário para você lembrar, ela mesma marcou os dias, pois disse que você é ninfomaníaco e isso o faz esquecer dos compromissos. Ah, e River precisa ir ao...
- Eu sei! - Reclamou Taylor, jogando o calendário em cima de uma mesa. - Já sei de tudo, são meus filhos, muito obrigado. - Disse, batendo a porta na cara da mulher. Voltou para a sala carregando as malas e as depositou aos pés de Caroline, que olhava abalada para ele.
- Taylor..! - Ela começou. Isaac e Jéssica os observavam em silêncio, segurando a vontade de rir.
- Eu sei, eu sei, me desculpe! Mas o que posso fazer? Prometo que eles não vão dar trabalho, é só até a Natalie voltar...
Ele se calou ao ouvir o ruído de um prato se espatifando na cozinha.
- Penny, sua burra, olha o que você fez! - Gritou a voz fina de Ezra.
- Burro é você! River, pega aquela vassoura! - Penny deu ordens ao irmão mais novo, que, na pressa de obedecer, escorregou no chão encerado e começou a chorar.
- Viu, agora ele bateu a cabeça por sua culpa!
- AHHHHHHHHHHHHHHH
- Cala a boca River, deixa de ser criancinha! - Gritou Ezra.
- Viggo, solta essa tesoura, mamãe disse que pode machucar!
- Ou nós podemos contratar uma babá, é claro. - Decidiu Taylor, afastando os cabelos do rosto e saindo em direção à cozinha para consertar a confusão.
Isaac riu.
- Bom, meu irmãozinho precisa de mim. Boa sorte, Caroline. - Disse, dando um tapinha animador nos ombros da garota. Ela gemeu de desgosto.
- É, acho que também vou. - Falou Jéssica, ao ouvir Ezra começar a chorar porque Taylor estava gritando com ele.
- Nãoo! - Caroline se levantou, segurando a amiga pela camiseta. - Não, não me deixe aqui com eles!
- Há! Quem é o criancinha agora? - Ouviram Penny rir maldosamente do irmão mais velho.
- É... desculpe, tenho que ir mesmo. - Afirmou Jéssica, se juntando à Isaac o mais rápido que pôde.



*****



O caos fôra estabelecido. Taylor e Caroline ficaram sozinhos com quatro crianças na casa, e ela, por seu estado adiantado de gravidez, não podia ajudar muito. Além disso, o cardiologista havia feito com que passasse a usar um monitor cardíaco o tempo inteiro, e sua única ordem era "não fazer nenhum esforço". Crianças eram um grande esforço.
Taylor estava tentando cumprir o que havia proposto. Passara a semana inteira procurando por uma babá, e as boas notícias chegaram em uma sexta feira a noite. Ele correu para Caroline, que estiva jogando banco imobiliário com as crianças. Um dos poucos momentos de paz que tiveram nos últimos dias.
- Adivinha, eu tenho a melhor notícia. - Disse ele animado.
- Encontramos um doador?
- Ok, eu tenho a segunda melhor notícia. - Ele sorriu, sentando ao lado dela. - Encontramos uma babá!
- Jura?? Quem?
- A sobrinha da dentista da minha mãe, ela está terminando o ensino médio e juntando dinheiro para a faculdade. Precisa muito do emprego, então acho que não vai nos largar na mão quando descobrir o trabalho que terá.
- Terminando o colegial? Huum... - Caroline não ficou tão animada quanto deveria. Desviou os olhos, voltando sua atenção para o tabuleiro.
- Caroline... - Disse ele preocupado.
- Ela é bonita?
- Ah, você está brincando comigo...
- Só responda, é? - Perguntou ela, empinando o nariz. Taylor revirou os olhos.
- Eu não conheço a garota, ela virá conversar com a gente amanhã cedo.
- Torça para ela não ser bonita. - Concluiu Caroline, jogando os dados.
- É, por que senão você vai desfigurar o lindo rosto dela, certo? - Ele riu.
- Não tem graça. - Caroline virou a cara, fingindo estar ofendida. - E vou sim.
- Tente não implicar com a menina, não é fácil achar alguém disposto a cuidar de quatro crianças. - Pediu ele ainda rindo, mas expressando uma preocupação real.
- Não se preocupe. - Ela sorriu para deixá-lo tranquilo.


Na manhã seguinte estavam aguardando com ansiedade. Deixaram as crianças dormindo até mais tarde, assim não estariam destruindo a casa quando a nova babá chegasse. Ao menos daria a impressão correta. Caroline estava terminando de fazer o café quando a campainha tocou. Taylor foi atender, empolgado.
A garota ouviu algum comentário da parte dele, e uma risada cristalina em resposta. Depois a porta se fechou, e ela o escutou se aproximando.
- Hey Carol... essa é Margaret.
Caroline se virou para cumprimentá-la, mas não foi muito longe. Seu queixo caiu. Quando conhecera aquela garota, ela estava loira. Da última vez que a vira, estava ruiva. Agora, os cabelos caíam em cachos negros pelas costas, mas como sempre, os olhos frios eram inconfundíveis.
- Maggie??
- Pode me chamar assim também. - A menina disse rapidamente, sorrindo para Caroline. Ela sentiu o rosto queimar de raiva.
- Maggie, que coisa, acho que já vi você em algum lugar. - Falou Taylor, sem perceber nada de estranho.
- Eu sou daqui de Tulsa mesmo. Hey, também acho que já vi você em algum lugar... ah, já sei, deve ter sido na MTV. - Respondeu Maggie, rindo baixinho. Ele a acompanhou, sentindo-se lisonjeado.
- Posso conhecer as crianças? - Pediu ela.
- Por aqui. - Taylor apontou o corredor. A garota se afastou e ele sorriu para Caroline.
- Ela é ótima, não é!? - Exclamou, saindo atrás de Maggie, sem esperar por uma resposta.
"Você vai se arrepender disso. Marque bem minhas palavras." Caroline se lembrou daquela mesma voz cristalina lhe dizendo aquelas palavras, meses atrás. A promessa parecia estar sendo cumprida.




"We're still holding on just hoping for the best"

6 comentários:

  1. Ah minha nossa senhora! Que capítulo gigante e perfeito!!!
    Primeiramente, venho dizer que a leitura foi muito boa. Capítulos grandes me fazem envolver na história.

    Agora, sobre os acontecidos. Minha teoria estava quase certa... eu disse quase :)
    Sério, quantas coisas aconteceram em um capítulo só! Muito bom. Chorei, ri e emocionei ao mesmo tempo. Fiquei com raiva e ao mesmo tempo apreensiva. Jesus, que capítulo. Acho que o melhor da ff.
    Sem contar que o Zac. Gente, perfeito. Ele super está diferente, sério! Perfeito.
    Acho que já falei perfeito lá em cima, não? Se eu repetir mais, releve por favor por outra palavra com o mesmo significado, mas é que hoje, eu estou adorando essa palavra. É a euforia do capítulo.

    Caramba, eu super indico essa fan fic. Mas vamos falar da Carol né!
    Ela vai sofrer uma barra agora hein. Nossa, essa fã que apareceu do nada ali. Ela precisa contar ao Taylor. sério! Não pode deixar que a garota e no estado dela, seja babá das crianças. Por favor, faz isso comigo não, pois, o coração dela não aguenta.
    Agora, fico muito dividida em relação ao que irá acontecer a Jessica, sério. Eu gostaria de dizer, que o caminho está livre pra ela, já que a Kate foi egoista demais por lagar o marido numa situação tão delicada como essa. Enfim, faz a Jessica conquistar o coração do durão?
    Vou adorar. :)

    Beijos
    e Capítulo perfeito (Eu disse pra vc relevar, né?)

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  2. Poxa Grazi, obrigadaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa(1000 a's depois..)aaaaaa!
    Sério mesmo, vejo um comentario desse tamanho, com um elogio desses... vou ficar feliz a semana inteira agora ç.ç aisuhuiashu e vou ficar me achando.
    Mas muito obrigada mesmo, vc sempre diz o que pensa aqui e eu amo isso.
    Bom, o proximo posto na semana que vem, vou tirar essa pra terminar de ler as fics de vcs e retribuir os comentarios que sempre fazem por aqui
    Ja falei MTOO obrigada? <3 huahu

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  3. Aiiiiiii!Muito bom esse capítulo,viu??? O último não tinha me animado mto,eu até falei pra Grazi q não entendia onde vc queria chegar com o acidente do Zac!
    Mas esse foi mto bom, q coisa mais linda o Taylor dizendo q ela tbm era uma emoção mto forte pra ele,q apesar de não servir mto,o coração dele tbm era dela!

    Bom,é isso,adorei,parabéns!!!

    beijos

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  4. Como assim eu li e não comentei???
    Tive altos surtos no twitter. rsrsrs....
    Bom...Deixa eu corrigir isso.

    Ta tudo muito tenso. É o coração da Carol que não aguenta emoção, mas ela é casada com o Taylor quer maior emoção que essa??? rsrs...
    O acidente do Zac e suas consequencias.
    Eu ja tava esperando a revolta dele com a Jéssica,mas....Olha ele todo fofo!! *-*
    Adoooro!!
    Agora fica a pergunta: Com quem a Jéssica vai ficar??? Isaac ou Zac. #mistério rsrs....
    Agora....esse final foi tenso. Ai que medo!!!
    Concordo com a Grazi.
    Essa louca não pode ser babá das crianças. A Carol tem que falar com o Taylor. O coração dela não aguenta e nem o meu. rsrsrs....

    Amei o capítulo.
    Parabéns!!!!

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  5. concordo com as meninas, capítulo incrível! mas fiquei mal pelo Zac =/
    suspirei com o Tay falando que o coração dele era dela... lindo *-*
    claro que estamos todas torcendo pra Carol achar um doador e ficar bem logo
    agora fiquei imaginando quando forem 5 crianças oO' hahaha que loucura!

    parabéns por mais um ótimo capítulo!

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  6. não tem nem o q comentar...ótimo,perfeito,amo suas histórias,tu escreve muuuiiitoooo bem guria...não demora muito pra poostar o próximo,senão é o meu coração q não vai aguentar,hauahauaauahaaa,,,bjo,bela

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